a professora Edília Coelho Garcia faz uma contundente análise do cenário educacional brasileiro. E afirma: "A educação brasileira vai mal".
Percebam que a entrevista está plenamente contemplada com o tema da aula de hoje dia 17/09
Quais são os desafios para os educadores no século XXI?
O meu forte não é numerologia, nem fazer previsões. Especialmente em relação ao futuro é difícil saber como virá a ser a educação no Brasil. Num país de dimensões continentais, com um povo com características, hábitos e costumes diversificados e convivendo com tantos problemas sociais, há muito o que fazer e não é uma tarefa fácil. Enquanto a sociedade civil não despertar de verdade para a importância de um povo educado e preparado para enfrentar os desafios que vislumbramos nesse século XXI, permaneceremos sendo apontados como o país que não atinge suas metas na educação. A missão da educação é a mesma, mas os desafios são outros. Os estudantes de hoje têm um novo perfil e os professores terão que mudar também. O desafio, hoje, é formar cidadãos conscientes de suas responsabilidades para com os outros e para com o planeta. Face a todos os problemas sociais como a pobreza, conflitos raciais e guerras, proliferação das drogas e suas consequências daninhas, além dos problemas ambientais como a devastação das reservas naturais, o professor, além de transmitir sua disciplina, precisa ter uma maior responsabilidade no sentido de conseguir criar em cada educando uma conscientização profunda da importância da responsabilidade social, da preservação do meio ambiente e dos princípios éticos e morais.
Dentro deste contexto, o que deve mudar na prática docente?
Os professores com acesso a uma formação continuada deverão pesquisar para reformular seus métodos de ensino e assim, readquirirem e exercerem a efetiva função de docência que, sabemos, não significa apenas dar aula. Em seu sentido amplo, docência envolve planejar o curso, empenhar-se na observação participante, elaborar material didático atrativo, orientar os estudantes, organizar e desenvolver seminários, registrar e documentar as aulas e atividades, elaborar relatórios a respeito do desenvolvimento dos cursos e, ainda, analisar, interpretar e divulgar, sempre que possível, textos escritos e apresentá-los em congressos, disseminando assim suas experiências. No momento atual, e não se sabe o que ainda virá por aí, com toda essa mídia e essa tecnologia que nos cercam, com a velocidade com que tudo muda, não se pode querer que os estudantes absorvam ensinamentos com o tipo de aula que ainda se mantém apenas tendo como "instrumentos" o tablado com a mesa, o quadro-negro e o giz manejado pelo professor. Os atrativos dos equipamentos eletrônicos são ferozes na competição com a sala de aula e certamente, serão os vencedores. É preciso criar uma nova metodologia de ensino que conquiste o interesse dos alunos e os faça querer participar das aulas que, necessariamente, deverão ser muito mais criativas. O volume de informação existente hoje precisa ser aproveitado de maneira construtiva e o papel do professor é fundamental nessa tarefa, de modo a fazer com que os alunos possam compreender as informações que são pertinentes, no enorme volume a que têm acesso pela internet, tevê, celular e toda essa parafernália eletrônica. Volto a dizer que informação não é conhecimento e será com a ajuda do professor e de um novo método de ensino que os alunos adquirirão conhecimento consistente.
Ao longo de sua trajetória profissional, como avalia o sistema educacional brasileiro?
Na minha longa trajetória profissional assisti a acertos e a erros em relação ao desenvolvimento do sistema educacional brasileiro. As leis que regularam esses sistemas sempre dependeram mais dos que colocam suas diretrizes em prática do que daqueles que as formularam. O que observamos é que, mais ou menos de dez em dez anos, as leis sobre a educação brasileira são alteradas. No entanto, a experiência tem mostrado que nem sempre as alterações foram a melhor solução. Uma alteração na lei ou nas políticas públicas deveria ser sempre precedida de uma ampla avaliação da aplicação das diretrizes nelas contidas e isso nem sempre é feito. Uma frase que muitos já me ouviram falar e que faço questão de repetir é que nossos governos adoram reinventar a roda, mas infelizmente ela fica sempre girando no mesmo lugar, dá a impressão que irá adiante, mas acaba voltando. Portanto, antes de criar novas leis ou alterá-las, acredito que, para aperfeiçoar o sistema educacional brasileiro, precisamos é analisar e colocar em prática as conclusões levantadas por todos os processos avaliativos que, aliás, já são amplamente realizados e de modo bem eficaz, tanto em âmbito municipal como nos âmbitos estadual e federal. Essas conclusões podem redirecionar as políticas, implantando-se ou ampliando-se o que vem dando certo e suprimindo-se o que não trouxe benefícios aos estudantes e professores. Creio ser possível levantar as necessidades a partir dos resultados de uma avaliação criteriosa, direcionar o desenvolvimento dos programas educacionais, identificando as oportunidades de melhoria, e por último, atrelando novas metas a serem atingidas pelo sistema educacional.Prof. Maria Inês - Teoria do Currículo