terça-feira, 9 de novembro de 2010

Psicologia e Educação

Como continuidade dos estudos freudianos, foi proposto um trabalho em aula do livro Psicanálise e educação questões do cotidiano, este foi divido em capitulo para ser apresentado em duplas. A minha parte foi o O jogo que apresentei junto com a minha colega Cristiane Borges sobre a visão que o educador deve ter sobre o jogo das crianças. 

O jogo e a aprendizagem, o que há por trás das brincadeiras infantis

            O ato de brincar é uma forma que a criança tem de por em prática tudo o que está aprendendo, as crianças conseguem através de jogos e brincadeiras expor suas emoções, medos, alegrias e sentimentos. Qualquer atividade pode ser feito de maneira lúdica seja qual for a “categoria” ou o nível de atividade envolvida, e é possível que adultos e crianças mudem dentro de uma mesma situação, de lúdico para sério, e vice versa. 
            O brincar em situações educacionais proporciona ao educador a oportunidade de observar o desenvolvimento da criança e perceber suas necessidades, essa tarefa nem sempre é fácil, pois grandes partes dos educadores não estão preparadas pra ver às vezes em detalhes pequenos o que pode vir a ser um problema. A criança realiza no jogo as mesmas fantasias que os adultos quando desejam algo que talvez não possam obter no momento e ficam “sonhando acordados” com a viagem desejada ou a casa nova. É comum quando a criança deseja algo que não pode ter naquele momento reproduzir esse desejo em suas brincadeiras, é uma forma de expor sua frustração inconsciente, uma criança pede a um adulto um sorvete que foi negado, ao chegar à escola ela propõe as outras crianças brincar de restaurante onde elas servem potes enormes de sorvetes representados por cubinhos de madeira.
            A criança brinca repetidas vezes do mesmo jogo, mas aos poucos se observarmos a brincadeira vai evoluindo de uma forma sutil assim como o seu desenvolvimento. Nas brincadeiras as crianças fazem uma ponte entre a imaginação e a realidade, Freud observou uma criança que sente a ausência da mãe ela resolve brincar com uma colher enrolada em um barbante, ela atirava a colher e puxava rapidamente, com isso ela representava a ausência da mãe e a volta que ela desejava tendo o controle da situação. Essa atitude também é comum quando ocorre à chegada de um irmãozinho, a criança vê no irmãozinho um concorrente para disputar a atenção e o lugar na família podendo ocorrer ate problemas como febre, uma menina que costumava brincar normalmente em sala de aula de repente se isola da turma e resolve brincar com uma boneca em específico, ela alimenta a boneca, a faz dormir e joga a boneca no chão, nesse ato ela está extravasando sua raiva e o medo de ser substituída. Ao identificar os medos e as angustias que a criança está vivendo e manifestando em suas brincadeiras o adulto (o educador junto aos pais) pode ajudá-la a enfrentar os seus medos através de histórias e brincadeiras que façam com que a criança se sinta compreendida e possa superar este momento difícil. Crianças que vivem em ambientes perigosos repetem suas experiências de perigo em suas brincadeiras. Por exemplo: no Brasil, crianças que vivem nas favelas onde predomina a luta entre policiais e bandidos têm como tema preferido de suas brincadeiras esses conflitos. Quando a criança assume o papel de alguém que teme a personificação é determinada por ansiedade ou frustração. Vários dos exemplos clássicos de Freud seguem esta linha: uma criança brinca de médico depois de ter tomado uma injeção ou de ter sido submetida a uma pequena cirurgia ou o caso da criança que vence o medo de atravessar o corredor escuro fingindo ser o fantasma que teme encontrar. Escolhendo o papel do médico ou do fantasma, a criança pode passar do papel passivo para o ativo e aplicar em outra pessoa, a uma criança ou uma boneca o que foi feito com ela.
             Outro aspecto importante que pode cosasionar problemas futuros é a forma de rotular o comportamento da criança (“bagunceiro”, “esperto”, “manhoso”, “bonzinho”) é como se o esperto não fosse aceito se não souber responder algo, a criança esta em formação, e com isso ela talvez não consiga demonstrar seus outros lados e assim não se sentir aceita.
            A criança que não brinca deve ser um motivo de preocupação para o educador, pois ela não está tendo a oportunidade de se expressar e ficando fechada e sem crescer, pois o brincar é o encontro da criança com o mundo.
            Cada brincadeira corresponde a uma fase. Para o bebê de seis meses, a sua brincadeira é explorar o próprio corpo e o de sua mãe, o bebê gosta de objetos substitutivos como o chocalho que lembra os sons que ele escutava quando estava na barriga na mãe, brincar de esconder ou abrir e fechar os olhos é para ele à perda e a recuperação do mundo, estar sempre com um pano que lembre a pele da mãe. Mais tarde eles passam a gostar de brincar de entrar e sair de objetos ocos (caixas, armários), revivendo a experiência de sair da barriga da mãe. Aos quatro anos, as crianças já possuem jogos mais elaborados, os meninos gostam de jogos com mais ação como brincar de espadas, de super-heróis, lutas, jogarem bola, eles tentam assim compensar o sentimento de fragilidade devida nesta fase se comparar com o pai. As meninas brincam de casinha com papéis mais definidos e com as tarefas do dia-a-dia da mãe ou a figura feminina mais próxima. Essa fase inicia a identificação sexual, os meninos podem brincar de casinha com as meninas, isso é um comportamento positivo, pois eles estão aprendendo a desenvolver a sensibilidade que vão precisar na fase adulta, assim como as meninas quando participam do futebol ou outras brincadeiras dos meninos, pois elas estão exercendo o seu poder de conquista do mundo. Esse comportamento só deve ser preocupante e servir de alerta quando esses jogos forem exclusivos, meninos que só querem brincar com brincadeiras de meninas e estar sempre na companhia das meninas, e meninas que se recusam a brincar de qualquer atividade feminina, pois estas crianças devem estar enfrentando dificuldades com a sua identificação sexual. A ajuda psicoterapêutica nesse momento pode se muito útil.
            Com o passar dos anos, os jogos vão tornando-se mais fiel a realidade, aos três anos a criança transforma um pedaço de madeira em qualquer objeto como, por exemplo, uma arma de brinquedo, uma criança maior já exige a semelhança com o objeto original, adaptando-o a realidade, o jogo passa a ter regras e o contato com outras crianças. O brincar também pode proporcionar uma fuga, às vezes das pressões da realidade, ocasionalmente para aliviar o aborrecimento, e às vezes simplesmente como relaxamento ou como uma oportunidade de solidão muitas vezes negada aos adultos e às crianças no ambiente atarefado do cotidiano, há crianças que são convencidas pelos adultos que o brincar não é algo importante, pois infelizmente levam uma vida de gente grande com uma agenda e tarefas para ser cumpridas.
            No período de desenvolvimento da criança até a fase da adolescência, o lúdico deve sempre estar presente e ser estimulado, ele faz com que a criança possa crescer de uma forma saudável, estimulando sua imaginação e fantasia, colocar em pratica o que está aprendendo e conseguir extravasar algum conflito interno que dessa forma sendo descoberto se tem a oportunidade de ajudar esta criança de forma mais rápida.

 Sara Windson Chaves Gonçalves

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