Se as famílias se omitem, a escola precisa agir
Estudantes desamparados serão duplamente vitimados ou marginalizados se não receberem uma atenção especial dos educadores
Luis Carlos de Menezes (novaescola@atleitor.com.br)
Luis Carlos de Menezes é físico e educador da Universidade de São Paulo (USP)
Em escolas privadas ou públicas, sobretudo a partir da última etapa do Ensino Fundamental, tenho visto professores sem alternativa senão retirar de classe quem impede o trabalho dos outros. Solução imediatista, mas frustrante. Quando essa situação se repete, é natural conversar com as famílias, mas, por problemas próprios ou da relação com a escola, elas participam bem menos do que o desejável. A questão então é: quando as famílias se mostram indiferentes ao que se passa com seus filhos ou não parecem saber cuidar deles, a escola tem o direito de se omitir? Não.
Comecemos por distinguir as diferentes situações que podem estar sob o mesmo rótulo para aprimorar seu diagnóstico antes de propor encaminhamentos. Se muitos alunos têm problemas na escola e não fora dela, é preciso rever o projeto pedagógico. Se os problemas só se manifestam em certas disciplinas, é preciso investigar as razões do descontentamento. E comportamentos comuns na adolescência, como afirmação pessoal pela contestação, se agravados por grupos que só respeitam quem desrespeita, com ofensas, pichações e vandalismos, exigem uma intervenção específica.
Cada caso deve ser tratado sob uma perspectiva educacional e institucional. Mas como não sobrecarregar os professores? Uma saída possível é firmar um compromisso de corresponsabilidade entre educadores, alunos e suas famílias ainda na matrícula e discutir as regras e as infrações a elas em conselhos participativos. Assim, as transgressões podem se tornar menos frequentes.
Há, no entanto, muitos casos que merecem atenção particular, quando crianças e jovens trazem para a escola carências de descaso e sequelas de maus-tratos, como mostro nos exemplos seguintes:
- Um menino estava para ser enviado ao conselho tutelar por brigas diárias com quem o provocasse. A mãe, operária com vários filhos de pais diferentes, disse que o "mandassem para lá, que ela também estava desistindo dele".
- Uma garota admitiu que ficara grávida de um colega de propósito, pois quando tivesse a criança receberia mais atenção. E ela tinha faltado às aulas por duas semanas sem que a escola e a família falassem sobre isso.
Cada uma dessas histórias teve um desfecho diferente. O menino ganhou a atenção de uma diretora sobrecarregada, mas dedicada, que reconheceu valores nele e o estimulou a controlar sua agressividade. A garota engravidou novamente, deixou a escola e, dois filhos e cinco anos depois, pensa agora em completar sua Educação Básica. A atenção recebida em cada caso fez toda a diferença.
Conheço outros educadores hábeis para identificar alunos e cuidar deles em diferentes condições de risco. Todos eles sabem que atitudes agressivas ou indiferentes podem ser pedidos de socorro. Por isso, outra possível solução, no âmbito das escolas, é indicar e apoiar esses educadores para fazerem o que sabem. Sem eles, os demais não conseguirão fazer seu trabalho e, o que é mais grave, muitos jovens correm o risco de serem marginalizados de uma forma ou de outra.
Para que isso aconteca é necessário professores cíticos, interessados, com olhar aguçado para identificar e ntervir, e não apenas para constatar mais um número nas estatísticas.
ResponderExcluirEm tempo: "professores críticos", "intervir
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