Alfabetização: O respeito ao pensamento da criança
A alfabetização quanto ao seu inicio ainda é uma questão de polemica, há muitos educadores que defendem na pedagogia que a criança só inicia seu processo de alfabetização quando entra no ambiente escolar, mais precisamente no primeiro ano do ensino fundamental, pois, a alfabetização na educação infantil também é questionada por alguns, neste ponto de vista ensinar a criança a ler e escrever antes do período escolar é o mesmo que querer dificultar a sua futura educação, ignorando o fato de que a criança por si só já possui processos cognitivos que a faz despertar para o inicio do que pra ela é ler e escrever. Estas idéias são defendidas por Piajet e seguidas por uma Argentina chamada Emilia Ferreiro que usarei como referência para este trabalho.
Assim como os processos cognitivos das fases de cada criança que são divididos em quatro estágios: sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal, o processo da leitura e escrita possui um desenvolvimento similar, pois, a construção da leitura e escrita inicia muito antes, principalmente entre crianças do meio urbano que tem acesso a leitura em casa. Segundo Emilia Ferreiro, estudos feitos das teorias psicogenéticas de J. Piajet é possível concluir que crianças de diferente classes, seja da elite ou da periferia urbana marginalizada, existe um processo de aquisição da linguagem escrita que precede e excede os limites escolares, vivemos hoje em uma sociedade letrada, as informações estão ao alcance das crianças não somente como as letras escritas, mas como símbolos em geral a criança consegue associar a figura a algo como uma embalagem de leite por exemplo. Entre três e quatro anos, a criança começa a formular hipóteses de como se lê e como se escreve, para ela a leitura se faz através de imagens, para ela a figura e a escrita é a mesma coisa, ela não faz uma distinção das letras e da imagem, um livro sem gravuras não é possível se ler e possivelmente ela encontrará nas letras algum desenho como uma lua representada pelas letras “O” e “C”, para assim justificar o motivo de um adulto ficar olhando para a página de um livro sem gravuras este é o inicio para uma caminhada para a leitura. Do mesmo modo a escrita a criança começa a fazer rabiscos indiscriminados tanto para desenhar como para escrever seu nome. Depois de pouco tempo a criança passa a entender que o desenho e a escrita são coisas diferente não é o desenho que se lê e sim as letras que acompanham este desenho ou objeto, já que para ela as letras sozinhas não possuem significado ainda. Esse é chamado de nível pré-silábico
Neste processo a criança começa a realizar um fenômeno chamado “realismo nominal”, onde não há ainda nenhum critério para o uso das letras as de alguma forma ela faz uma ligação entre a palavra escrita e o objeto representado por ela, à realidade material do objeto é a grafia. Ela passa a estabelecer critérios onde a palavra deve corresponder ao tamanho do significado, por exemplo, a palavra “boi” que para ela é escrita com um número maior de letras do que “formiga”, pois o boi é muito maior que a formiga, as letras não se repetem uma ao lado da outra e deve sempre haver um número mínimo de letras para algo ser legível. Este é um processo de pensamento, a criança vai buscar uma nova hipótese quando se dá conta que aquela que ela vinha utilizando não é suficiente para explicar como se escreve e se lê.
Quando a hipótese pré-silábica começa a se mostrar falha, à criança substitui por uma hipótese baseada na atribuição de valores sonoros às letras, onde cada letra corresponde a uma sílaba, por isso é chamada de nível Silábico. Por exemplo, Fernando escreve seu nome: PG3 é uma forma que Fernando tem de escrever, P = Fer; G = nan; 3 = do, ou uma criança com maior acesso a materiais escritos tem uma maior tendência a utilizar letras que façam parte da palavra por exemplo “cavalo” seria representado por CVO, onde C = Ca; V = va; O = lo ou a mesma palavra representada por AAO, derrubando assim as leis de quantidade mínimas e variedade das letras. À medida que a criança começa a confrontar a escrita dos rótulos (linguagem letrada) com sua escrita silábica, ela começa a entrar em conflito com a escrita de palavras que ela já conhece e vai começar a procurar uma nova hipótese para explicar o ato de ler e escrever. Como exemplo uma menina foi escrever “gelatina” e o resultado foi “gata” como ela conhecia a palavra gata entrou em conflito, dois dias depois ela estava escrevendo cada letra correspondente a um fonema essa é a hipótese alfabética. Quando a criança já esta nesse processo de alfabetização entre cinco e seis anos, ela ainda não entende as várias classes gramaticais então ela pensa que todas as palavras são substantivos, “a menina comprou um caramelo”, ela identificará com facilidade menina e caramelo, mas não terá consciência do artigo e do verbo, para ela basta ter “menina” e “caramelo” para a oração estar completa. Aos seis não de forma geral, as crianças tentam igualar a oração escrita com a oração falada, ela repete para si mesma fazendo uma ligação com as letras. “Papai martelou a tábua”, para muitas, a letra “a” isolada não quer dizer algo então ela provavelmente irá completar com uma letra a mais “ta”, já outra criança que ainda não compreende o verbo martelar, vai transformar “martelou” em “martelo” substantivo. Cada fase não depende da idade, pois nem todas as crianças têm o mesmo acesso a leitura e escrita e seu tempo cognitivo não são os mesmos, sempre haverá crianças com mais facilidade para aprender a ler e escrever e outras que enfrentarão mais dificuldades, o professor deve entender que cada criança tem o seu tempo de amadurecimento e aquisição do conhecimento.
A ação do professor deve estar colocada no respeito ao pensamento da criança, portanto deve-se procurar conhecer as hipóteses da criança quanto aluno e levá-las em conta nas atividades pedagógicas. Assim como a alfabetização é um processo de construção que a criança percorre, a prática pedagógica também deve ser construída pelo professor no seu dia-a-dia, sempre refletindo sobre suas próprias praticas e a realidade interna e externa de seus alunos. A escola cumpre um papel importante e insubstituível, no entanto, esta não deveria ser o de dar inicialmente todas as chaves secretas do sistema alfabético levando em consideração somente a alfabetização por si somente, mas deve criar condições para que a criança descubra por si mesma.
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