Ronaldo
Mota - Por Marcus Vinicius Pinto - Terra Educação - 07/08/2013 - São Paulo,
SP
Aulas que são verdadeiras sessões de torturas. Professores e
gestores presos ainda a conteúdos clássicos e um sistema educacional, que vem de
berço, que privilegia a dependência na hora de aprender. Tudo isso pode
encontrar uma saída, de acordo com o professor Ronaldo Mota, ex-Secretário
Nacional de Educação Superior e de Educação a Distância do MEC e que hoje atua
no Instituto de Educação da Universidade de Londres. “Não dá para pensar em
transformação educacional desacoplado da transformação de novas tecnologias”
afirmou durante palestra no seminário das Faculdades Estácio, realizado nesta
quarta-feira em um hotel da zona sul do Rio. “Educação não pode ser menos
atraente para um jovem do que um game” disse.
O professor disse que é preciso estimular o lado de gestores,
professores e alunos pelo uso das novas tecnologias. “Não dá para imaginar,
hoje, professores que não saibam lidar com novas tecnologias e nem com
tecnologias que estão por chegar. Acho impossível formar um bom profissional
hoje sem que ele tenha sido submetido a lidar com competência com o que existe
de mais avançado” afirmou, sem distinguir ensino à distância e presencial. E
para ele não bastam campanhas que dotem os professores com tablets. “Tablet é um
equipamento duro. O conteúdo é que importa. Ao estudante não basta ter acesso ao
conteúdo. Ele precisa interagir, modificar, questionar, dar opinião, colaborar
com outros colegar. Isso é barato, é factível. Alguns professores dizem que os
estudantes não vão gostar. Mas estão equivocados. É disso que eles gostam. É
colocar a educação em uma linguagem em todos os níveis`, afirmou Mota.
Para Ronaldo Mota os gestores educacionais e professores precisam
ser ousados na hora de mudar e advoga pela ideia de lançaram portais interativos
das disciplinas para que o estudante tenha acesso ao conteúdo antes mesmo de
chegar à sala de aula. `Não existirá no futuro a figura do estudante que chega à
sala de aula na total ignorância do vai ser falado. Alguns estudantes que não
vão querer fazer isso, mas esses não terão acesso à sala de aula por não terem
se preparado adequadamente. Consequemente, poderemos ter menos aulas, mas mais
produtivas e mais interessantes`, disse.
E para ele, o Brasil, mesmo estando atrás de seus colegas de
Brics, Russia e China, tem tudo para crescer nesse ponto, embora classifique
nosso ensino médio com de baixa qualidade. “O Brasil tem 102 milhões de usuários
de internet e não estamos colocando esse pessoal em contato com a educação. O
Brasil é dos países mais afáveis com novas tecnologias: sistema bancário,
eleitoral, acesso a portais. Fomos campeões de usar Orkut e podemos ser campeões
de Facebook em pouco tempo. Tem uma juventude que gosta dessa qualidade e temos
um conjunto de gestores e professores que repelem essa ideia. Que querem proibir
Facebook, criar cultura anti-tecnológica e isso não funciona” afirma, dizendo
entretanto que a tarefa do Brasil é gigantesca nesse ponto.
De acordo com o professor existem várias experiências, inclusive
no Brasil, onde isso é feito de forma brilhante e eficiente. “O Brasil tem boas
experiências mas em pequena escala. São coisas boas para pouca gente e em geral
têm que se pagar. E quando faz coisas em grande escala, para quem não pode
pagar, agrega má qualidade. A tecnologia pode mediar essa relação porque te
permite trabalhar em grande escala com baixo custo e com muita qualidade,“
afirmou, citando como exemplo o portal educacional Veduca.
Como transformar a grande quantidade de informação, de forma
rápida e gratuita a que se tem acesso nos dias atuais, em educação de qualidade,
é para Ronaldo Mota o grande desafio da educação atual: “Mudar a forma de
ensinar e aprender contamina os demais. O antigo analfabeto é aquele não sabia
escrever. Hoje o analfabeto tem um monte de informações e não sabe o que fazer
com aquilo. Informação é fundamental na formação acadêmica. O grande desafio é
como criar pessoas que saibam o que fazer com tanta informação para o que mais
lhe interessa” afirma, dizendo que o que o Brasil preciso apostar no ensino
fundamental e médio. “Mas em geral nossos governantes são velhos e tradicionais
e não gostam de tecnologia e educação.”
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