Olá garotas da turma de teoria do currículo
A partir de agora, começaremos nossas postagens sobre os resultados da pesquisa de campo realizada em escolas de Porto Alegre. Para tanto, aqui vai material para ajudar com os possíveis resultados:
Questionário
PARA AJUDAR EM NOSSOAS DESCOBERTAS:
A partir de agora, começaremos nossas postagens sobre os resultados da pesquisa de campo realizada em escolas de Porto Alegre. Para tanto, aqui vai material para ajudar com os possíveis resultados:
Da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
A
LDB é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabelece, por assim
dizer, as diretrizes e as bases da educação brasileira. Sancionada a partir da
lei 9394/96, a LDB, em seu título I, artigo 1º, assim define a educação:
"A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas
manifestações culturais." (LDB, 1968:01)
Levando
em consideração a definição de currículo escolar com sendo as experiências
sociais acumuladas pelas crianças ao longo de sua existência, acredita-se que a
LDB, mesmo implicitamente, pois não cita a expressão currículo escolar,
contempla nossas expectativas em relação ao assunto em curso. De acordo com a
lei, os processos de formação desenvolvidos no ambiente familiar, bem como na
convivência diária com as pessoas a partir de suas manifestações culturais
(quaisquer que sejam elas), e em outros segmentos da sociedade civil, são
abrangências da educação, logo componentes integrantes do currículo escolar a
ser desenvolvido nas instituições de ensino.
É
importante a garantia que a lei assegura de desenvolvimento da educação a
partir, inclusive, das manifestações culturais de cada povo. Na verdade, o que
a LDB quer dizer é que a cultura se constitui em mais um relevante recurso
pedagógico que auxilia no desenvolvimento das atividades de cunho educativo. Sendo
assim, pode-se afirmar que as crianças das séries iniciais, antes mesmo de
entrar na escola, já possuem uma vivência sociocultural que agrega em si
múltiplos saberes de uma comunidade detentora de uma identidade característica
e reveladora do padrão de vida das crianças que de lá são parte integrante. A
tarefa do educador, neste caso, seria o da manipulação (pedagógica) adequada da
vivência cultural das crianças.
Por
outro lado, a LDB, em seu título II, quando estabelece os princípios e os fins
da educação nacional, esclarece, no artigo 3º, a forma como o ensino deve ser
ministrado levando em consideração vários itens, dentre os quais o da
valorização da experiência extra-escolar. Neste ponto do documento o que se
pode notar é o discurso explícito da lei em favor da formação de um currículo
escolar pautado no cotidiano extraclasse no espaço sociocultural,
portanto como um componente curricular fundamental à educação. Observe-se
como esta particularidade da lei está em consonância com o artigo 26, do
capítulo II, seção I, da LDB: "Os currículos do ensino fundamental e médio
devem ter uma base nacional comum a ser complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
clientela." ()
Nesta
passagem da Lei de Diretrizes e Bases fica latente, mais do que nunca, a
preocupação e a valorização das atividades extraescolares como componentes
necessários para a composição de um bom currículo escolar. A LDB chama de parte
diversificada os conteúdos específicos e inerentes às regiões brasileiras,
à economia e à clientela que entrará em contato com tais conteúdos. Desse modo,
o que se conclui é que a LDB, ao menos na teoria e no papel, manifesta-se a
favor de uma educação que respeite e valide os saberes populares como parte
integrante de conteúdos significativos para a formação do currículo escolar das
crianças das séries iniciais.
Análise de
dados
Com
o intuito de verificar, na prática do cotidiano escolar, como está sendo
formado o currículo escolar das crianças que cursam a Educação Infantil, as
séries iniciais e finais do ensino fundamental e os jovens do Ensino Médio da
Educação Básica, realizar-se- a uma pesquisa com professores em escolas da rede
particular e pública de ensino na cidade de Porto Alegre. Para fins de
anonimato não serão revelados os nomes dos informantes. É importante destacar
que a pesquisa acontecerá por meio da aplicação de questionários contendo 07
(sete) perguntas relacionadas à formação do currículo escolar, bem como um
conjunto de observações registradas em diários de campo. Os resultados serão
apresentados em forma de Relatório e estes sob a forma de tabelas para uma
maior compreensão dos fatos.
- O que você entende por Currículo Escolar?Justifique.
( )
Organização sistemática e planejada de conteúdos.
( ) Programa
de disciplinas.
( ) Refere-se
à vida e a todo o programa da escola.
( ) Deve ser
construído a partir da realidade do educando e dos aspectos sociais, culturais,
políticos e econômicos da comunidade local.
( ) Outra
resposta
- No desenvolvimento de suas atividades com os alunos
você leva em consideração as situações cotidianas vivenciadas por eles
como suporte metodológico para uma melhor fundamentação teórica dos
conteúdos trabalhados em classe? Como você faz isso?
( ) Sim.
Partindo daquilo que os alunos já sabem, dos conhecimentos e experiências já
disponíveis.
( ) Sim. É
necessário que o aluno relacione o conteúdo com sua realidade.
( ) Sim. Faz
parte do processo ensino-aprendizagem levar em consideração as situações
vivenciadas pelos alunos, já que todos são diferentes.
( ) Não faz
parte do processo
- Durante o planejamento do projeto pedagógico
escolar, a instituição faz um estudo da realidade social, política,
econômica e religiosa da comunidade onde se localiza? Quais os critérios
utilizados para isso?
( ) Sim.
Através do dialogo e da abertura à comunidade.
( ) A
instituição conhece sua clientela em todos os aspectos. Por isso, dispensa esse
tipo de estudo.
( ) Através
de sondagem que revele o comportamento sociocultural da comunidade.
( ) É
necessário realizar tal estudo levando em consideração a realidade da
comunidade.
( ) Não
conheço e nem tenho acesso ao projeto pedagógico
- De que forma a escola trabalha a avaliação do
currículo escolar?
( ) Através
de aspectos quantitativos e qualitativos aplicados por meio de testes,
atividades práticas e observações.
( ) Através
de jogos, trabalho em grupo, brincadeiras, pesquisas.
( )Avaliando todo o contexto escolar em todos
os aspectos.
- Você enquanto educador (a) tem consciência da
importância de se trabalhar com as experiências de vida de seus alunos
como um fator determinante na formação do caráter e da personalidade
deles? O que você pensa disso?
( ) Sim.
Essas experiências de vida são formadoras da bagagem cultural do aluno.
( ) Sim.
Porém, a formação do caráter e da personalidade é determinada muito mais no
ambiente familiar.
( ) Sim. Isso
significa compromisso com a educação.
( ) Não tenho
consciência disto.
- Os temas transversais (sexo, drogas, violência,
educação ambiental e outros), propostos pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, são explorados em suas aulas? De que forma?
( ) Sim.
Introduzindo-os dentro do currículo oficial.
( ) Sim.
Através de projetos.
( ) Através
de textos, fatos históricos do cotidiano e daqueles vividos pela comunidade
local.
( ) Não
trabalho com temas transversais
- Os princípios pedagógicos da interdisciplinaridade,
da contextualização, da identidade, da diversidade e da autonomia são
desenvolvidos em suas aulas? Como?
( ) Sim. De
forma integrada, compromissada e atual.
( ) Sim.
Através do envolvimento das disciplinas entre si e da contextualização dos
conteúdos.
( ) Sim. A
partir de dinâmicas de interação.
( ) Não
trabalho desta forma
PARA AJUDAR EM NOSSOAS DESCOBERTAS:
Currículo Escolar – Referencial para a
prática
Breve
Retrospectiva Histórica
A
tradição escolar sempre apresentou as teorias do currículo como algo isolado e
estanque, algo desprovido de significações mais profundas que pudessem
contribuir para o desenvolvimento das capacidades intelectuais e cognitivas de
cada aluno em particular. O currículo escolar era simplesmente considerado como
uma seriação de conteúdos escolares em que cada unidade curricular (disciplina)
era estruturada e detalhada de acordo com as exigências e normas da instituição
de ensino. O currículo caracterizava-se pelo modo próprio de ser de cada
escola, pelo bom funcionamento de suas atividades e pela forma padronizada de
se trabalhar com a educação e com seus pacientes mais imediatos: os alunos.
Dessa forma, se a estrutura planejada no início do ano, a que foi estabelecida
no projeto político pedagógico de cada escola, estivesse sendo rigorosamente
obedecida, significava que o plano curricular estava sendo bem formado e
coerentemente respeitado em suas determinações.
Moderna
Concepção de Currículo Escolar
Mais
modernamente têm-se as novas teorias de currículo escolar que se nos apresentam
como um recurso, não de resistência, mas de acréscimo àquelas já existentes e
que buscam dar conta de um universo educacional mais extenso, mais amplo. O
currículo escolar atual não é, portanto, o mesmo proposto pela tradição escolar
e conservado de igual maneira por todas as escolas. Pode-se mesmo dizer que, na
era da tecnologia, o currículo escolar se forma a partir das necessidades de
cada escola e de cada aluno.
Neste
sentido, o currículo escolar passa a ser definido como sendo todas as situações
vividas pelo aluno dentro e fora da escola, seu cotidiano, suas relações
sociais, as experiências de vida acumuladas por esse aluno ao longo de sua
existência, as quais contribuem para a formação de uma perspectiva
construcionista educacional. É importante dizer que, para a formação do
currículo escolar individual de cada aluno, a organização da vida particular de
cada um constitui-se no principal instrumento de trabalho para que o professor
possa explorar no desenvolvimento de suas atividades. Logo, o que se quer dizer
é que a escola deve buscar na experiência cotidiana do aluno elementos que
subsidiem a sua ação pedagógica e, ao mesmo tempo, recursos que contribuam para
a formação do currículo escolar dos alunos.
A
escola não pode esquecer que quando os alunos chegam, eles já possuem uma
história de vida, recebem frequentemente influências fora da escola, apresentam
um comportamento individual, social e uma vivência socioculturais específicos
ao ambiente de origem de cada um deles. Todas essas características individuais
dos alunos integram elementos básicos que auxiliam na formação do currículo
escolar. É isso o que nos dizem MOREIRA e SILVA: "[...] a cultura popular
representa não só um contraditório terreno de luta, mas também um importante
espaço pedagógico onde são levantadas relevantes questões sobre os elementos
que organizam a base da subjetividade e da experiência do aluno." (MOREIRA
e SILVA, 2002:96)
Falar
em currículo escolar é falar também na vida do aluno e da escola em constante e
em dinâmica ação, ou seja, alunos e educadores, no espaço escolar, constroem e
formam, através de processos de valorização e do cotidiano que vivenciam, o
currículo ideal para o desenvolvimento de habilidades necessárias ao desempenho
educacional dos alunos. Todas as atividades de cunho educativo que venham a ser
exploradas pela escola constituem elementos essenciais e de mesma importância
na formação do currículo escolar, o qual interfere de maneira significativa na
formação do caráter e da personalidade dos alunos. Considerando que a
personalidade humana se caracteriza pelo modo próprio de ser apresentado por
cada indivíduo, acredita-se na força de sua expressão como fator operante nas
teorias do currículo.
Sendo
a personalidade uma das características humanas formadas com a contribuição da
escola, pode-se afirmar que o currículo escolar constitui-se, então, em uma
construção social que auxilia na formação e no desenvolvimento do comportamento
humano. Por sua vez, sendo o currículo uma construção social ele é, também,
construção cultural, pois toda prática educativa que se assimila, tende-se a
repassá-la às futuras gerações, perpetuando-se, assim, a cultura como marca da
presença do homem em sociedade. Indo um pouco mais além, pode-se considerar o
currículo escolar como a seleção e a organização do conhecimento educacional
uma vez que, como já dito anteriormente, todas as atividades, sejam elas
escolares ou não, que tenham por finalidade a aprendizagem de uma conduta
educativa, contribuem satisfatoriamente para a formação desse tipo de
currículo.
O
currículo escolar, além dos aspectos já mencionados, também pode ser entendido
como um processo de socialização das crianças com o objetivo de enquadrá-las ou
ajustá-las às estruturas da sociedade. Neste sentido, acredita-se que as
relações sociais, as trocas de experiência, o cotidiano, formam um conjunto de
fatores que garantem a formação de um currículo escolar que busca integrar a
vida escolar à vida social. Em contrapartida tem-se que a perfeita observação
de todos esses elementos direciona à verdadeira práxis do currículo, ou seja, a
articulação entre a teoria e a prática curriculares em sala de aula. Construir
o currículo na sala de aula requer profissionalismo e competência por parte dos
professores quanto à utilização de uma importante ferramenta pedagógica: a
vivência sociocultural das crianças.
1.3
O Papel dos Educadores/professores e da Escola: a compartimentalização do
currículo
Os
profissionais da educação devem buscar a valorização do conhecimento do senso
comum, trazido pelas crianças quando chegam à escola, como base para atingir o
conhecimento formal ou crítico. Dessa forma, se perceberá que a teoria presente
no planejamento curricular da escola (os conteúdos acadêmicos) estará em
harmonia com o conhecimento do senso comum trazido com as crianças (a prática
da realidade da vida). A escola deve encontrar na cultura popular um vasto
campo de atuação pedagógica que colabora para a formação da subjetividade dos
alunos, subjetividade esta organizada a partir da experiência de vida dos
próprios alunos. Como é de se notar, uma vez juntas, teoria e prática
curriculares formam a base da educação que se contextualiza com a aproximação à
vida dos alunos. Vejam-se as considerações de ARROYO quando fala das relações
sociais na escola e a formação do trabalhador:
"A
preocupação com o cotidiano, com os rituais, com as relações sociais que se dão
nos processos escolares, na produção do conhecimento e socialização, tem
aumentado entre os educadores e pesquisadores. Que papel cumpre as relações
sociais na escola na formação do trabalhador e dos alunos em geral? A escola
está cada vez mais próxima de nossas preocupações. Aproximando-nos da escola
descobrimos seus currículos, sua organização e também as relações sociais em
que se dá a prática educativa." (ARROYO, 1999:13)
O
currículo formado pela instituição escolar constitui-se, assim, em uma questão
de identidade sociocultural em que o ambiente de aprendizagem, seja ele escolar
ou extraescolar, é determinante na formação do caráter aliado à personalidade
das crianças que se encontram em fase de desenvolvimento físico, intelectual,
social, emocional, crítico.
De
acordo com observações e pesquisas realizadas na área de estudo do currículo,
achou-se por bem compartimentalizá-lo em duas grandes divisões: a primeira é a
que se denomina de Currículo Formal, o que leva em consideração somente
os aspectos estruturais do currículo, como a divisão das disciplinas, a carga
horária dos professores, as normas relativas à instituição de educação ou as
atribuições dos cargos técnicos exercidos por cada funcionário da escola; a
segunda é a que se prefere chamar de Currículo em construção, aquele que
aproveita a experiência prévia de vida dos alunos e transforma-a em objeto de
manipulação para a produção do conhecimento.
Para
finalizar estas primeiras reflexões sobre a formação do currículo escolar,
têm-se as considerações de SILVA quando trata da definição do currículo:
"O
currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias
tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O
currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O
currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forma
nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é
documento de identidade." (SILVA, 2003:150)
O
Currículo Oculto
Uma
vez entendido o conceito de currículo escolar, investigar-se-á, agora, o lado
oculto do currículo, o lado que não nos interessa, mas que, infelizmente, está
presente no cotidiano da prática escolar. Acredita-se que a expressão Currículo
Oculto tenha sido utilizada pela primeira vez por Philip Jackson, em 1968,
em um livro intitulado Life in classrooms. Na tentativa de se
compreender satisfatoriamente a significação do currículo oculto, têm-se as
palavras de SILVA que afirma:
"O
currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos que, sem fazer parte
do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma explícita, para
aprendizagens sociais relevantes." (SILVA, 2003:78)
No
entanto, não nos deixemos enganar por este belo conceito que poderia ser
suficiente à compreensão do fenômeno em estudo. O que, na verdade, o autor quer
dizer é o seguinte: todas as atitudes, os comportamentos e os valores que
permeiam a vida dos alunos como forma de enquadrá-los às estruturas da
sociedade capitalista e que são transmitidas no ambiente escolar, contribuem
para a formação do currículo oculto e, de certa forma, consideram-se
aprendizagens sociais relevantes, porém não para os alunos, mas para a minoria
da sociedade que detém o poder político-educacional e que exige que sua cultura
seja transmitida nas escolas na tentativa da legitimação de seu poder
opressivo. Neste sentido, o currículo oculto surge como forma de consolidação
das classes economicamente privilegiadas da sociedade.
Assim,
o currículo oculto transforma a escola em um espaço de transmissão da doutrina
capitalista, a qual, segundo SILVA (2003) produz e legitima os interesses
econômicos e políticos das elites empresariais. O que ocorre é que a escola, de
modo particular a sala de aula, passa a ser um local exclusivo do
reprodutivismo dos valores, das atitudes e dos comportamentos da classe
privilegiada. Estes elementos acabam sendo impostos nos currículos escolares,
mas não são parte integrante da vida e do cotidiano de muitas crianças, as
quais são preparadas para a absorção de uma cultura que não as satisfaz e que,
portanto, nada tem a contribuir em sua formação.
Nota-se,
contudo, que o currículo oculto reproduz, através da cultura escolar, as
estruturas sociais e a ideologia dominante do capitalismo. Com isso, o
currículo oculto interfere na subjetividade dos alunos, os quais passam a ser
inibidos e impedidos de manifestarem-se quanto à própria atuação no mundo.
Um
exemplo da presença do currículo oculto nas salas de aula é a própria forma de
organização da classe. Geralmente as carteiras são dispostas em filas indianas
em que cada aluno tem sua atenção voltada sempre para frente com o fim único de
interromper toda e qualquer forma de comunicação com os outros alunos. Esse
exemplo é reflexo de uma grande relação de poder em que o professor ocupa a
posição central da sala e é detentor do conhecimento produzido e acabado. Os
alunos são considerados como sujeitos pacientes desse tipo de organização
educacional e, no geral, são simples reprodutores do conhecimento recebido.
Veja-se, mais uma vez, o que diz SILVA com relação aos propósitos do currículo
oculto:
"Para
a perspectiva crítica, o que se aprende no currículo oculto são
fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações que permitem
que crianças e jovens se ajustem da forma mais conveniente às estruturas e às
pautas de funcionamento, consideradas injustas e antidemocráticas e, portanto,
indesejáveis, da sociedade capitalista. Entre outras coisas o currículo oculto
ensina, em geral, o conformismo [...] Numa perspectiva mais ampla, aprendem-se
através do currículo oculto, atitudes e valores próprios de outras esferas
sociais, como, por exemplo, àqueles ligados à nacionalidade." (SILVA,
2003:78-79)
A Questão
do Currículo Escolar nos Documentos Oficiais
"A
questão do múltiplo, do plural, do diverso, bem como das discriminações a ela
associados, passam a exigir respostas, no caso da educação, que preparem
futuras gerações para lidar com sociedades cada vez mais plurais e desiguais.
Cobra-se da educação e, mais especificamente do currículo, grande parte
daquelas que são percebidas como medidas para a formação de cidadãos abertos, tolerantes
e democráticos." (CANEN, 2002:175-176)
Discutir
a formação do currículo escolar nos documentos oficiais significa fazer uma
reflexão acerca da forma como este tema tem sido tratado de acordo com sua
significativa importância para o processo sócio-educacional. Ou seja, o que se
propõe é uma análise crítica que investigue de que maneira a formação do
currículo escolar é referenciada nos documentos legais do país, os quais servem
como base para um bom desenvolvimento da educação brasileira. Neste trabalho,
serão três os documentos legais analisados: a Constituição Federal Brasileira
de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e os
Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação.
Da Constituição Federal Brasileira
A
Constituição Federal Brasileira é o documento que regulamenta e dirige a vida
de nosso país. Sendo assim, constitui-se em um conjunto de normas
jurídico-constitucionais elaboradas com o objetivo de garantir os direitos e
deveres dos cidadãos brasileiros. Dessa forma, sendo a educação uma instância
social, tem-se que, segundo o título II, capítulo II, artigo 6º da
Constituição, a educação fundamenta-se em um direito social assegurado por lei.
De acordo com a Constituição em seu título VIII, capítulo III, seção I, artigo
205, em que trata da educação, lê-se o seguinte:
"A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho." (CFB.: 119)
No
que se refere à formação do currículo escolar, pode-se afirmar que a
Constituição é pertinente apenas em parte em relação à forma como trata o tema.
Perceba-se que a educação é direito constitucional de todos, além de ser
responsabilidade do Estado e da família. Neste sentido, ela deve ser
incentivada com a colaboração da sociedade com vistas ao pleno desenvolvimento
da pessoa, preparando-a para o exercício da cidadania e para sua qualificação
profissional. Neste ponto, a Constituição é simples e direta: a educação possui
como finalidade a garantia de cidadania e a preparação para o mercado de
trabalho.
Desse
modo, acredita-se que a Constituição, no referido artigo, não faz referência
direta às experiências de vida dos alunos como instrumento pedagógico que
colabore em sua formação, mas que sinaliza para tal questão quando diz que a
educação deve ser incentivada pela sociedade. Em outras palavras, equivaleria a
dizer que as relações sociais mantidas pelas crianças, antes de entrar na
escola, podem servir como recursos para uma aprendizagem mais favorável à
produção de conhecimentos desejáveis.
Passando
ao artigo 206, em seu inciso III, lê-se que o ensino deve ser ministrado com
base em princípios, dentre os quais o princípio do pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas. Sabe-se que a história de vida de cada criança ou jovem
é particular graças a fatores sociais como a situação socioeconômica. Logo, o
cotidiano de uma criança proveniente de classes socioeconomicamente
desprestigiadas e, portanto, sua realidade social, é diferente do cotidiano e
da realidade de crianças oriundas de classes socioeconomicamente prestigiadas.
Esse fato foi observado pela Constituição quando concebe que o pluralismo de idéias,
ou seja, os vários contextos sociais nos quais as crianças encontram-se
envolvidas devem ser respeitados e levados em consideração pela instituição
escolar no momento em que se torna um meio pelo qual o conhecimento deverá ser
produzido pelas crianças.
Para
facilitar a produção do conhecimento pelas crianças, a Constituição também
defende o pluralismo de concepções pedagógicas, as quais devem ser
satisfatoriamente manipuladas como recursos pedagógicos facilitadores do
processo de ensino-aprendizagem. Assim, nota-se que o pluralismo de ideias é
algo que se encontra relacionado às experiências individuais de cada criança
acumuladas antes mesmo de entrar na escola e que se constitui em um importante
recurso pedagógico de ensino e em um significativo elemento de formação da
identidade cultural e social das crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário