quarta-feira, 24 de agosto de 2011

.Crianças contemporâneas brincam mais nos seus quartos. O que isto pode representar?

Investigado na Universidade do Minho, Alberto Nídio Silva, defende que as crianças brincam cada vez mais nos quartos, como se regressassem ao tempo das “cavernas”. Em consequência deste comportamento, o investigador acredita que as crianças desenvolvam menos a socialização, a solidariedade e a necessidade de compreender a diferença.


“Há uma espécie de regresso às cavernas, as crianças fecham-se num refúgio de luxo conectado com o mundo – o virtual em vez do real, o site em vez do sítio. É certo que elas continuam num mundo lúdico de encanto, mas fazem-no sem irmãos, nem vizinhos, nem amigos informais”, explica o investigador doutorado em sociologia infantil, Alberto Nídio Silva.

O investigador diz que as brincadeiras individualizaram, devido às mudanças que a sociedade tem vindo a sofrer ao longo dos tempos.

Na tese “Jogos, Brinquedos e Brincadeiras – Trajectos Inter-geracionais”, desenvolvida por Alberto Nídio para a conclusão do doutoramento, explica que as crianças passaram a brincar com as tecnologias, com os brinquedos industriais e a estar na escola a tempo inteiro, deixando para trás as tradicionais correrias nos montes, as brincadeiras na rua com os vizinhos e as suas aventuras.

As actividades curriculares, o “engavetar” das crianças nas mais diversas instituições para coincidir com o trabalho dos pais, são algumas das actividades que o investigador reprova, justificando que a “vida das crianças infernizou-se e que está seriamente amputada do quotidiano com a dimensão plena da brincadeira”.

Alberto Nídio Silva acredita que “a sociedade deve rapidamente reconquistar o espaço público perdido”, mas também que as escolas devem “criar espaço-tempo” com actividades “exclusivamente lúdicas”. De modo a “trazer ao interior da família a obrigação de abrir as portas para que, lá fora, as crianças se possam encontrar e brincar, tal como antes se reuniam no largo, adro ou campo com os vizinhos e colegas da escola, catequese ou escutismo”.

“Para equilibrar uma balança que parece pender para a perda do sentido de autonomia do movimento, da criatividade e do próprio corpo da criança e para a subordinação a formas estandardizadas e mercantis do brincar”, o investigador acredita ser necessária uma conjugação entre as velhas tendências e os novos padrões.

Alberto Nídio Silva fez mestrado e doutoramento em sociologia infantil na Universidade do Minho, mas também é já autor da obra “Estudo de caracterização dos recreios escolares com vista à sua requalificação”.
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2 comentários:

  1. Cada vez mais a nossa sociedade está individualista ,não só os adultos mais nossas crianças também.Muitas vezes orientadas de forma errada por pais e educadores que pensam que assim estão protegendo da violência e de sofrimento..Grande engano que deve ser revertido o mais rápido possível,se não daqui alguns anos não teremos mais praças,parques pois as crianças o farão virtualmente..Temos que ensinar nossas crianças a serem crianças que brincam com brinquedos de verdade que se sujam,se machucam,isso é desenvolvimento e aprendizado para toda vida..SEJAMOS CRIANÇAS FELIZES..VANESSA MAIDANA

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  2. Mais uma vez esse estudo vem em conteúdo abordado nas disciplinas do 3º semestre, onde estudamos o brincar,a criança, a interação destes na escola....
    Estamos numa epoca, que em nome da "segurança", prendemos nossas crianças, seja nas escolas, seja nos lares, com grades, e outros meios, e acabamos fazendo uma proteção "desprotegida", pois violamos um elemento da infância, que o adulto não consegue absorver nem explanar, que é o brincar...simplesmente, brincar.

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