De que maneira a Educação Ambiental pode ser mais eficiente? Como disciplina única ou permeando outras matérias? Concentrada na Semana do Meio Ambiente ou ministrada ao longo do ano? Deve se restringir à escola, ou ser ampliada para a família e a sociedade? Essas são algumas das questões que o Professor Roosevelt Fernandes, engenheiro ambiental, criador e coordenador do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental (Nepa), coloca para professores e alunos discutirem em sala de aula. O objetivo, segundo ele, é que a Educação Ambiental deixe de ser imposta como um dogma, sem questionamento: “quase todas as escolas tratam da ‘coleta seletiva’, para gerar o envolvimento dos alunos com a causa. Porém, pesquisas revelam que a grande maioria explicita que a coleta só terá sucesso se for adotada por lei. Quais as causas da falta de sintonia entre a ação do educador e a visão do educando?”.
Cenário bem definido - O Nepa é um grupo sem fins lucrativos que, com o apoio de empresas como a Vale, ArcelorMittal, Fíbria e Brasitália, foi criado há seis anos em Vitória (ES). Com o estudo da percepção ambiental e social em segmentos formadores de opinião, tornou-se um centro de referência, inclusive para pesquisas internacionais. “O processo de educação (neste caso, a ambiental) deve ser irradiado a partir das escolas (ao menos, deveria)”, diz o Professor Fernandes. Para ele, o cenário é claro: da interação professor/aluno, deve-se chegar às famílias e, depois, às comunidades do entorno das escolas. “Através de iniciativas de responsabilidade social, muitas empresas alocam recursos para a área de Educação Ambiental, possivelmente mais do que o poder público”, acrescenta o Professor. Ele lembra que o foco inicial visava os alunos. Mais recentemente, as ações também se voltaram para os educadores. Essa postura enfrentou resistências, explica o Professor: “Muitos chegaram a imaginar que havia um desejo oculto das empresas para ‘fazer a cabeça dos professores’ no sentido de privilegiar ‘a visão delas’. Aos poucos, essa incorreção foi superada e hoje observamos que órgãos da Educação e do Meio Ambiente já procuram as empresas para, em conjunto, oferecerem melhor formação ambiental para professores e estudantes”.
Melhoria contínua - O Professor conta que, quando era executivo na então Vale do Rio Doce e na Aracruz Celulose, recebia inúmeras solicitações de apoio para a implantação de programas de Educação Ambiental. “De início, aderi à tese do ‘quanto mais Educação Ambiental, melhor’. Depois, adotei a tese do ‘quanto mais, melhor, mas com alguma medida de resultados’. Em vez de indicadores como número de alunos e professores atingidos, quantidade de citações na mídia, quantidade de cartilhas distribuídas, por que não encontrar uma forma de avaliar se tais programas estavam de fato criando um perfil de cidadania ambiental nas comunidades para as quais eles eram oferecidos?”
Foi essa inquietação que o levou a criar o Nepa e reunir um grupo de estudiosos em torno da necessidade de realizar pesquisas prévias para identificar a percepção ambiental dos públicos aos quais, depois, especialistas em Educação Ambiental poderiam aplicar programas que trouxessem resultados mais efetivos. Para o Professor Fernandes, “a Educação Ambiental não se aprende apenas nos bancos escolares, mas ao longo de toda a vida. Por isso, é necessário que haja uma mudança de paradigma para assegurar a Educação Ambiental de que precisamos no século 21”. Ele propõe que a estruturação dos programas de Educação Ambiental tenha foco ampliado: “Os professores devem ter instrumentos de baixo custo e de fácil uso para saberem o perfil prévio de percepção ambiental dos seus alunos. Com esse pré-diagnóstico, será possível analisar se os programas de Educação Ambiental atendem às necessidades e expectativas dos estudantes. Da mesma forma, um pós-diagnóstico pode avaliar a eficácia dos programas e sinalizar alterações. Assim é que vejo a Educação Ambiental do século 21, um programa de melhoria contínua”.
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