sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ABRINDO 2011/01

Revista Gestão Universitária, Edição 258


As diversas formas de atuar do pedagogo: uma visão contemporânea

Eleison Diettrich de São Christovão

RESUMO: A nossa sociedade contemporânea, mais conhecida como a sociedade do conhecimento, passa por mudanças cada vez mais rápidas, graças às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’S), fazendo com que todos os profissionais tenham que se atualizar cada vez mais, ampliando seu campo de ação no tempo e no espaço. A profissão de pedagogo bem como da própria pedagogia vem assumindo um caráter multidimensional como campo de conhecimento, e por isso a extensão do seu alcance nas diversas esferas da prática social. Cada vez mais o trabalho do pedagogo é exigido para além do ambiente escolar, espaço esse considerado como da educação formal. São diversos os espaços considerados não-escolares de atuação do pedagogo, como: Organizações não-governamentais (ONGS), sindicatos, associações, justamente onde houver uma prática educativa vai haver uma ação pedagógica, e necessariamente a ação do pedagogo. Esse profissional tem sua formação regulamentada nos termos das diretrizes curriculares nacionais. PALAVRAS-CHAVE: multidimensionalidade; não-escolares; diretrizes.



ABSTRACT: In our contemporary society, better known as the knowledge society, undergoes changes ever more rapidly, thanks to new technologies of information and communication technologies (ICT's), so that all professionals have to update themselves increasingly expanding its field of action in time and space. The professional of the pedagogy and the pedagogy has been taking as a multidimensional field of knowledge, and thus extending its reach into diverse spheres of social practice. Increasingly the work of the educator is required beyond the school environment, a space considered as formal education. There are several areas considered non-school environment for professionals of pedagogy such as: NGOs, churches, unions, clubs, associations, events, radio stations and broadcast TV, just where there is an educational practice will be a pedagogical action, and necessarily action of the professional of pedagogy. This profession has been regulated under the national curriculum guidelines

Introdução




O pedagogo é um profissional preparado para atuar a favor de um pleno desenvolvimento do ser humano, considerando diferentes culturas e formas de aprender do ser humano, preocupado com a sua formação de forma integral, tanto intelectual quanto emocional, e por isso seu campo de atuação só se amplia, uma vez que estamos numa sociedade que se transforma muito rapidamente, cada vez mais globalizada e tomada por um número enorme de informações. Sobre essa maneira de entender a relação ensino-aprendizagem, nos ensina Morin (2001, p.10):



A "Educação" é uma palavra forte: "Utilização de meios que permitem assegurar a formação e o desenvolvimento de um ser humano (...)". O termo "formação", com suas conotações de moldagem e conformação, tem o defeito de ignorar que a missão do didatismo é encorajar o autodidatismo, despertando, provocando, favorecendo a autonomia do espírito. O ensino, arte ou ação de transmitir os conhecimentos a um aluno, de modo que ele os compreenda e assimile, tem um sentido mais restrito, porque apenas cognitivo. A bem dizer, a palavra ensino não me basta, mas a palavra educação comporta um excesso e uma carência”.



É exatamente nesse momento que o pedagogo vem atuar na transformação das informações em conhecimento, de uma forma sistemática, atendendo a pressupostos epistemológicos seus ou do seu entorno, de forma dialética, e por isso esse ato é político, como nos afirma Paulo Freire (1987).



O desenvolvimento humano, dentro dessa perspectiva, não pode ser considerado como transmissão de conhecimento, nem tampouco desenvolvimento natural e espontâneo, mas como um processo mediado de atualização cultural do sujeito onde o processo de transformação é tanto do sujeito quanto de seu meio (Sacristán, 1998; Krug, 2007; Paro, 2001a e 2001b). Da mesma maneira os ramos das ciências humanas estão interligadas para integrar novos conceitos e novas atuações dos profissionais. Assim argumenta Ladislau Dowbor[1], este é um pouco o caminho que leva um economista, que percebe que os problemas da sua área exigem soluções pertencentes a um universo mais amplo, a encontrar-se de repente na mesma plataforma de discussão de um educador; que também busca respostas no econômico, no social, no político. Porque o que se coloca na realidade neste fim de século, é a questão do nosso futuro comum (Dowbor apud Freire, 2006)”.



A pedagogia considerada como arte, ciência e profissão de ensinar, cujo objetivo maior é a reflexão, ordenação, a sistematização e a crítica do processo educativo, tem sua formação regulamentada nos termos das diretrizes curriculares nacionais, resolução CNE/CP n° 1, de 15 de maio de 2006, e fundamentada no art. 64 da lei n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Alem de formar professores, a pedagogia prepara profissionais capazes de compreender e colaborar para uma educação de melhor qualidade na realidade brasileira, comprometidos com a transformação social. A lei n◦ 9.394 de 20 de dezembro de 1996, mais conhecida como LDB, lei de diretrizes de bases da educação nacional, assim nos diz com relação à formação do profissional da educação:



A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Com relação à atuação do pedagogo em espaços não escolares, esse mesmo documento ainda ressalta que o perfil do graduado em Pedagogia deverá ter profundos conhecimentos teóricos, diversidade de práticas que se articulam ao longo do curso, sendo a sua dimensão assim enfatizada:



"[...] gestão educacional, entendida numa perspectiva democrática, que integre as diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos educativos escolares e não-escolares, especialmente no que se refere ao planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à avaliação de planos e de projetos pedagógicos, bem como análise, formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas e institucionais na área de educação”.



Pedagogia Hospitalar



Segundo Wolf (2007), um desses campos não-escolares da atuação do pedagogo é a pedagogia hospitalar que funciona como uma parceria entre o hospital, a universidade representada pelos estagiários e a instituição escolar de onde o paciente é oriundo. O pedagogo através da escolarização hospitalar garante a continuidade dos estudos das crianças hospitalizadas, promovendo a adaptação, a motivação, e a ocupação sadia do tempo ocioso através de atividades de leitura, garantindo o direito a educação.



Sua atuação pode se dar na ala de recreação do hospital, ou com as crianças que necessitam de estimulação essencial, com classe hospitalar de escolarização para continuidade dos estudos e no atendimento ambulatorial. A pedagogia hospitalar vai além do atendimento ao paciente, estendendo também a sua família que freqüentemente apresentam problemas de ordem psicoafetiva que podem interferir na adaptação no espaço hospitalar.



As práticas do pedagogo como também dos profissionais da saúde, se intercalam, e Domingues (2001, p.18) assim as define:



[...] aquelas situações do conhecimento que conduzem à transmutação ou ao transpassamento das disciplinas, à custa de suas aproximações e frequentações, Pois, além de sugerir a idéia de movimento, da frequentação das disciplinas e da quebra de barreiras, a transdisciplinaridade permite pensar o cruzamento de especialidades, o trabalho nas interfaces, a superação de especialidades, o trabalho nas interfaces, a superação das fronteiras, a imigração de um conceito de um campo de saber para outro, além da própria unificação do conhecimento. Vale dizer que não se trata do caso da divisão de um mesmo objeto entre (inter) disciplinas diferentes (multi) que o recortariam e trabalhariam seus diferentes aspectos, segundo pontos de vista diferentes, cada qual resguardando suas fronteiras e ficando (em maior ou meonr grau) intocadas. Trata-se, portanto, de uma interação dinâmica contemplando processos de autoregulação e de retroalimentação e não de uma integração ou anexação pura e simples.



A prática hospitalar do pedagogo vai depender do efetivo envolvimento com o doente como também a modificação no ambiente que está envolvido junto aos programas adaptados às capacidades e disponibilidades do enfermo. Essa prática é tão importante que o teórico Pimenta (2001) discute a respeito da formação do pedagogo e diz que ele é um profissional que:



Atue como gestor/pesquisado/coordenador de diversos projetos educativos, dentro e fora da ecola; pressupondo sua atuação em atividades de lazer comunitário; em espaços pedagógicos nos hospitais e presídios; na formação de pessoas dentro das empresas; que saiba organizar processos de formação de educadores de ONG’s; que possa assessorar atividades pedagógicas nos diversos meios de comunicação como TV, rádio, Internet, quadrinhos, revistas, editoras, tornando mais pedagógicas campanhas sociais educativas sobre violência, drogas. AIDS, dengue; que esteja habilitado à criação e elaboração de brinquedos, materiais de auto-estudo, programas de educação a distância; que organize, avalie e desenvolva pesquisas educacionais em diversos contextos sociais; que planeje projetos culturais e afins.



Pedagogia Empresarial



Acompanhando as mudanças globais passamos para uma sociedade do conhecimento, na qual o recurso controlador não é mais o capital, ou tampouco a terra ou a mão-de-obra, mas sim a capacidade e experiência dos indivíduos. No âmbito empresarial são necessários profissionais para atuarem nos processos de planejamento, capacitação, treinamento, atualização e desenvolvimento dos funcionários dessa empresa, e é nesse momento que surge o pedagogo empresarial.



O pedagogo empresarial visa sempre melhorar a qualidade de prestação de serviços de uma empresa. Seja planejando, solucionando problemas, formulando hipóteses, elaborando projetos, esse profissional visa à melhoria dos processos instituídos na empresa, garantindo uma qualidade no atendimento de seus clientes e também dos seus funcionários. Todo esse processo tem por base a gestão de pessoas, desenvolvendo a capacidade de renovação da empresa e dos seus funcionários, buscando sempre o conhecimento de novas técnicas, a promoção de atitudes transformadoras e mobilizadoras, visando sempre que a empresa obtenha excelência nos atendimento às exigências do mercado e da sociedade (Greco, 2005). Assim se posiciona Minarelli (1996, p. 17 e 18):



"As grandes empresas e corporações, para sobreviver à crise econômica mundial e atender às novas demandas do mercado, eliminaram ou redesenharam cargos e, em muitos casos, operações inteiras”.E em relação às pessoas atuando dentro deste novo contexto profissional, o mesmo autor (1996, p.18) pondera: "Os trabalhadores precisarão reciclar-se periodicamente para manter seus conhecimentos atualizados e desenvolver outras habilidades”.



Pedagogia Social



Mais uma vez devido às grandes transformações sociais que ocorrem nas sociedades atuais, uma nova concepção de educação tem sido exigida. Os Estudos da pedagogia social vão ao encontro daqueles sujeitos que historicamente sempre foram excluídos de todo esse processo (Paula e Machado, 2008). Estas questões estão retratadas no próprio documento do Ministério da Educação e Cultura, MEC (Brasil, 2005, p.5):



Enfatiza-se ainda que grande parte dos Cursos de Pedagogia hoje tem como objetivo central à formação de profissionais capazes de exercer a docência na Educação Infantil, nos anos iniciais do ensino Fundamental, nas disciplinas pedagógicas para a formação de professores, assim como para a participação no planejamento, gestão e avaliação de estabelecimentos de ensino, de sistemas educativos escolares, bem como organização e desenvolvimento de programas não-escolares.(grifo nosso) Os movimentos sociais também têm insistido em demonstrar a existência de uma demanda ainda pouco atendida, no sentido de que os estudantes de Pedagogia sejam também formados para garantir a educação, com vistas à inclusão plena dos segmentos historicamente excluídos dos direitos sociais, culturais, econômicos e políticos.



Embora ainda haja discussões em torno da formação do profissional Pedagogo ter ou não uma base na concepção de docência, essa dicotomia, no entanto têm em comum em considerar a formação do Pedagogo como base científica. O profissional da educação para atuar em espaços diversos, e também em espaços escolares, precisa saber aprender a refletir de forma crítica, científica e teórica a fim de que possa agir comprometido, competente e responsável com todas as classes sociais e diferentes contextos (Paula e Machado, 2008) . Sobre esse tema Libâneo (2006, p.7) afirma que:



Todo trabalho docente é trabalho pedagógico, mas nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente. Um professor é um pedagogo, mas nem todo pedagogo precisa ser professor. Isso de modo algum leva a secundarizar a docência, pois não estamos falando de hegemonia ou relação de precedência entre campos científicos ou de atividade profissional. Trata-se, sim, de uma epistemologia do conhecimento pedagógico. (...) Precisamente pela abrangência maior do campo conceitual e prático da Pedagogia como reflexão sistemática sobre o campo educativo, pode-se reconhecer na prática social uma imensa variedade de práticas educativas, portanto uma diversidade de práticas pedagógicas. Em decorrência, é pedagoga toda pessoa que lida com algum tipo de prática educativa relacionada com o mundo dos saberes e modos de ação, não restritos à escola. A formação de educadores extrapola, pois, o âmbito escolar formal, abrangendo também esferas mais amplas da educação não-formal e formal. Assim, a formação profissional do pedagogo pode desdobrar-se em múltiplas especializações profissionais, sendo a docência uma entre elas.



A pedagogia social só começou a ter produções significativas a partir das últimas décadas, onde esses artigos trazem as incertezas e divergências sobre a estrutura e finalidade da educação não formal e da pedagogia social (Paula e Machado, 2008). Porém todas as discussões concordam em não desvalorizar a escola formal embora discutam os mecanismos excludentes que ela produz a partir dos seus processos formais de aprendizagem.



Uma importante definição de Caliman (2006, p.5)que define bem a respeito da pedagogia social, onde fica clara que ela é uma ciência voltada para as classes sociais populares, argumenta da necessidade de mais estudos sobre as práticas nessa área:



(...) diz respeito á diferença entre Pedagogia Escolar e Pedagogia Social. A primeira tem toda uma história e é amplamente desenvolvida pela didática, ciência ensinada nas universidades. A segunda, a Pedagogia Social, se desenvolve dentro de instituições não formais de educação É uma disciplina mais recente que a anterior. Nasce e se desenvolve de modo particular no século XIX como resposta às exigências da educação de crianças e adolescentes (mas também de adultos) que vivem em condições de marginalidade, de pobreza, de dificuldades na área social. Em geral essas pessoas não freqüentam ou não puderam freqüentar as instituições formais de educação. Mas não só: o objetivo da Pedagogia Social é o de agir sobre a prevenção e a recuperação das deficiências de socialização, e de modo especial lá onde as pessoas são vítimas da insatisfação das necessidades fundamentais. Podemos re-afirmar, portanto, que no Brasil atual a Pedagogia Social vive um momento de grande fertilidade. É um momento de criatividade pedagógica mais que de sistematização dos conteúdos e dos métodos. Em outras palavras, mais que pedagogistas, temos no Brasil educadores que colaboram com o nascimento e o desenvolvimento de um know how com identidade própria, rica de intuição pedagógica e de conteúdos. Ao mesmo tempo nos damos conta de que é chegado o momento no qual precisamos sistematizar toda essa gama de conhecimentos pedagógicos para compreender melhor e interpretar a realidade e projetar intervenções educativas efetivas.



Conclusão



A educação é um processo que ocorre em vários âmbitos da sociedade, não se restringindo à escola. As escolas formadoras de pedagogos devem se preparar para capacitarem esse profissional para um cenário mais abrangente, diversificado, multicultural. A pedagogia sendo um instrumento da educação e tendo essa educação agora ampliado seu leque de atuação, seja em associações de moradores, de artesãos, em igrejas e ong’s, empresas tanto particulares como públicas, sua formação deve contemplar princípios epistemológicos visando a transformação da nossa sociedade numa mais justa e solidária, crítica e autônoma. Autonomia do sujeito diante das relações de poder, da vigilância de suas ações individuais, da burocratização, da racionalidade instrumental, da subjugação da subjetividade, pois como afirma Libâneo, “precisa reafirmar seu compromisso com a razão, com a busca da emancipação, da autonomia, da liberdade (...) uma pedagogia para emancipação precisa continuar apostando na possibilidade do desenvolvimento de uma razão crítica precisamente como condição para desvelar as restrições à autonomia no contexto do mundo moderno. (Libâneo, 2002 p.87-88, apud Fonseca, 2006)”.



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Sobre o Autor: Encontra-se estudando Licenciatura em Pedagogia na UERJ, último ano; Formado em Engenharia Elétrica na UVA em 1985; Pós-graduado em Orientação Educacional pela UCAM em 2008; Licenciado em Matemática pela UCAM em 2007; Pós-graduado em Gestão, Implementação e Planejamento em educação a distância pela UFF em 2010; Proficiência em Inglês pela Universidade de Michigan em 2005. Atuando somente como tutor a distância no curso de pós-graduação da LANTE/UFF e professor voluntário da Escola Municipal Antônio de Freitas em Mendes-RJ. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2271218976492631





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[1] Ladislau Dowbor, é doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e do Instituto Metodista de Ensino Superior, autor de O que é poder local?, Brasiliense, 1994, e de numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social.





Autor deste artigo: Eleison Diettrich de São Christovão - participante desde Qua, 26 de Janeiro de 2011.



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