domingo, 19 de dezembro de 2010

A dimensão avaliativa da práxis docente (2)

O processo avaliativo é um dos momentos pedagógicos mais críticos na prática docente. É, também, um momento prenhe de valores éticos, pois se trata de julgar e definir a vida acadêmica dos nossos alunos. Será que temos consciência do que este julgamento envolve? Será que percebemos que a pretensa objetividade científica está repleta de aspectos subjetivos que influenciam o ato de avaliar? Esta não deveria ser uma preocupação central para quem se dedica à tarefa de educar?


Esta percepção é fundamental para o bom exercício da prática pedagógica. A consciência ética funciona como fator de equilíbrio diante de uma relação de poder desigual. O professor desempenha uma função pouco susceptível ao controle externo: na sala de aula ele é o todo-poderoso, ou pelo menos imagina sê-lo.

Há atitudes nada éticas que expressam abusos e desrespeito. Um fator que merece destaque é o uso da prova/nota enquanto fator de controle e punição. O docente, por exemplo, pode elaborar uma prova mais difícil com a clara intenção de dificultar e punir. O aluno fica refém do humor professoral.

É certo que os alunos podem recorrer através das vias burocráticas. A maioria, contudo, desenvolve estratégias de sobrevivência e o senso de realidade indica que nem sempre é bom afrontar o mestre; em certos casos, desistem do curso; há casos de resistência individual, mas é raro que ocorra a rebeldia coletiva. Não esqueçamos que os professores, em caso de reclamações do aluno, são julgados pelos próprios pares e, em geral, predomina o espírito corporativo. Mas os alunos também sabem reconhecer os aspectos positivos como: respeito e valorização da relação humana; competência e compromisso com a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual.

O processo avaliativo é a ponta do iceberg: háa necessidade de debater as relações entre a universidade e a sociedade, os diferentes níveis de ensino e os processos seletivos e de ascensão social, etc. Professores, por mais que se isolem em suas torres de marfim, reproduzem em sala de aula as idéias e procedimentos que compõem a sua visão de mundo e de sociedade.

Todavia, o compromisso político e social não é um ato mecânico. Como esperar compromisso ético e pedagógico quando se padece de consciência política e social? (E aqui tomamos a política em sentido amplo). Por outro lado, militância política não é sinônimo de compromisso ético com os alunos: o docente pode professar idéias progressistas ou mesmo socialistas e ser incoerente em relação á prática pedagógica, substituindo o aprender crítico pela doutrinação.

Claro, enfocamos aqui apenas alguns dos aspectos da práxis docente. O objetivo não é culpar nem generalizar, mas apenas chamar a atenção para o poder professoral e as conseqüências do uso abusivo e antiético. Não podemos fechar os olhos à realidade que cerca o trabalho educativo e precisamos romper com a hipocrisia e o espírito de corpo que encobre e dá guarida a práticas pedagógicas nefastas.

Tudo o que possa ser feito para melhorar e aperfeiçoar a educação merece consideração. Antes tentar do que se render ao pessimismo ou compactuar com tais práticas pedagógicas que causam constrangimento, humilhação, sofrimento, etc. Contudo, o problema principal permanece, em nossa opinião, intocável: o sistema de notas sob o qual todo o ensino se funda e submete a todos indistintamente. É este um dos principais fatores que propiciam abusos.

O professor que não compreende que o educador também precisa ser educado; não percebe que também é avaliado por seus alunos. Eles apenas não têm os meios para expressar o seu veredicto. Se tivessem, muitos docentes seriam reprovados!

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